28 novembro, 2016

MSPL inscreve chapa para as eleições da Direção do Sindijus 2017-2019



Hoje, primeiro dia de inscrições de chapas para as eleições da Diretoria Executiva, Conselho Fiscal e Suplentes do Sindijus/SE, que acontecem em fevereiro de 2017, o Movimento Sindicato é Pra Lutar (MSPL) se coloca novamente à disposição da luta e inscreve a sua chapa.

A corrente sindical MSPL, fundada há 10 anos, foi responsável pela mudança do modelo de sindicalismo e da cara do Sindijus (antes Sindiserj). O MSPL rompeu com o sindicalismo assistencialista, que se resumia à mera administração de planos de saúde, e implementou o sindicalismo combativo, organizando as primeiras campanhas salariais que prevalecem até os dias atuais e já fazem parte da identidade dos servidores do Tribunal de Justiça de Sergipe.

É nesse período de intensas lutas que os trabalhadores do TJSE conquistam seus maiores avanços e passam a ter autonomia perante a gestão.

Apesar de influenciar e já contribuir diretamente com a organização sindical no TJ antes mesmo de exercer mandato, o Movimento está na direção do Sindijus desde 2011. Nesse período, exerceu dois mandatos que transformaram o sindicato em todos os aspectos, da qualidade das ações políticas à estrutura administrativa da entidade. O Sindijus passou de um sindicato pouco conhecido para ser um dos sindicatos mais atuantes e respeitados em Sergipe.

A formação da chapa do MSPL não surge da vontade individual. Perpassou por um processo de debates, amplo e democrático, entre os servidores do TJSE que constroem o Movimento. O processo começa um ano antes entre os militantes do Movimento. Foram realizadas diversas reuniões, pré-inscrições de candidatos e, finalmente, a votação interna sobre os nomes que iriam compor a nova chapa.

A chapa do MSPL é formada por Técnicos e Analistas que colocam seus nomes à disposição da categoria para disputar o 3º mandato do grupo no comando do Sindijus. E, caso sejam aprovados, continuarão organizando, diuturnamente, as lutas dos servidores do TJSE por justiça.

Na luta sempre!


CONHEÇA A CHAPA DO MOVIMENTO SINDICATO É PRA LUTAR (MSPL)

Diretoria Executiva

Coordenação de Relações Institucionais e Comunicação:
  • GILVAN SANTOS, Analista Judiciário, última lotação no Fórum Arthur Déda, em Nª. Srª. do Socorro, atualmente à disposição do Sindijus/SE.

Coordenação de Administração e Finanças:
  • ALEXANDRE ROLLEMBERG, Técnico Judiciário, lotado no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju.

Coordenação da Secretaria-Geral:
  • MARCUS RAMOS, Analista Judiciário, lotado no Palácio da Justiça em Aracaju.

Coordenação de Formação Sindical:
  • MILA PUGLIESI, Técnica Judiciária, lotada no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju.

Coordenação de Políticas Sociais:
  • JONES RIBEIRO, Técnico Judiciário, lotado nos Fóruns Integrados II, em Aracaju.

Coordenação de Aposentados e Pensionistas:
  • SARA CAVALCANTE DO Ó, Técnica Judiciária, lotada no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju.

Coordenação de Assuntos Jurídicos:
  • PLÍNIO PUGLIESI, Técnico Judiciário, última lotação no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju, atualmente à disposição do Sindijus/SE.

Coordenação de Cultura e Lazer:
  • FABIANE SPIER, Técnica Judiciária, lotada no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju.

Coordenação de Saúde dos Trabalhadores:
  • RAUL LAURENCE, Técnico Judiciário, lotado no fórum de Estância.

Conselho Fiscal
  • ANTÔNIO FERNANDES, Técnico Judiciário, lotado nos Fóruns Integrados I, em Aracaju.
  • BRAZ ATHANAZIO JR, Técnico Judiciário, lotado no fórum de São Cristóvão.
  • LARISSA CARMONA, Técnica Judiciária, lotada nos Fóruns Integrados III, em Aracaju.

Suplência

1º Suplente:
  • MARCELO FERREIRA, Técnico Judiciário, lotado no Palácio da Justiça, em Aracaju.

2º Suplente:
  • VAGNER DO NASCIMENTO, Técnico Judiciário, última lotação no Fórum Gumersindo Bessa, em Aracaju, atualmente à disposição do Sindijus/SE.

3º Suplente:
  • TIAGO PASSOS, Analista Judiciário, lotado no Palácio da Justiça, em Aracaju.




04 novembro, 2016

Carlos Marighella: a chama que não se apaga

Em perfil publicado na Folha em 12 de novembro de 1984, o sociólogo Florestan Fernandes retoma a trajetória e prática política do ex-deputado e líder da ALN


O 4 de novembro de 1969 incorporou-se à história graças a um feito policial-militar que culminou na morte de Carlos Marighella. Faz, portanto, quinze anos que morreu o principal líder da ALN (Ação Libertadora Nacional), figura política que se tornara conhecida como militante do PCB (Partido Comunista Brasileiro), seu dirigente de cúpula e também seu deputado no Congresso que elaborou a Constituição de 1946. Ele foi perseguido como a caça mais cobiçada e condenado à morte cívica, eliminação da memória coletiva. Só em dezembro de 1979, quando seus restos mortais foram trasladados para Salvador, sua cidade natal, Jorge Amado proclamou o fim da interdição expiatória: "Retiro da maldição e do silêncio e aqui inscrevo seu nome de baiano: Carlos Marighella". No ano passado, removemos outra parte da interdição, em uma cerimônia pública de recuperação cívica e de homenagem que "lavou a alma" de socialistas e comunistas em São Paulo.

Um Homem não desaparece com a sua morte. Ao contrário, pode crescer depois dela, engrandecer-se com ela e revelar sua verdadeira estátua à distância. É o que sucede com Marighella.

Ele não redimiu os oprimidos nem legou um partido novo. Mas atravessou as contradições que vergaram um partido que deveria ter enfrentado a ditadura revolucionariamente, acontecesse o que acontecesse. Desmascarou assim a realidade dos partidos proletários na América Latina. Em uma situação histórica de duas faces (como gosto de descrever), contrarrevolução e revolução ficam tão presas uma à outra que são os dois lados de uma mesma moeda. À superfície, parece que a luta de classes opera em mão única — no sentido e a favor dos donos do capital e do poder. Todavia, no subterrâneo (na “infraestrutura da sociedade” ou no “meio social interno”) existem várias fogueiras, e o aparecimento de alternativas históricas pode depender de “um punhado de homens corajosos” ou de partidos organizados e preparados para a revolução.

Em vários países da América Latina, entre eles o Brasil, a burguesia — apesar da dependência econômica, cultural e política — está encravada nas estruturas de poder nacional e as controla com mão de ferro. As ditaduras, “tradicionais” ou “modernas”, marcam as oscilações súbitas, às vezes de curta duração, da guerra civil latente para a guerra civil aberta. Nenhum partido dos oprimidos pode pretender-se revolucionário, na orientação socialista ou comunista, se não estiver preparado para enfrentar tenaz e ferozmente essas oscilações. A “legalidade”, na acepção de uma sociedade civil civilizada, é uma ficção. O grande valor de Carlos Marighella — como o de outros que enfrentaram corajosa e tenazmente aquelas contradições, com a “crise interna do partido” — está no fato de ter compreendido objetivamente e exposto sem vacilações o que a experiência lhe ensinava. No diagnóstico, algumas vezes, ficou preso a uma terminologia equivocada e a concepções que ele pretendia apurar e superar através de uma prática revolucionária consequente com o marxismo-leninismo e com as exigências da situação histórica. Por fim, acabou vitimado pela vulnerabilidade central: a inexistência do partido que poderia abrir novos rumos na transformação revolucionária da sociedade. Um partido desse tipo não nasce de um dia para o outro. Requer uma longa e difícil construção. Marighella caiu nos ardis que apontara, tentando derrotar o inimigo onde era impossível fugir ao seu “cerco militar estratégico”. Não fora ao fundo da análise da Revolução Cubana, ignorando o quanto uma situação histórica revolucionária simplificara os caminhos daquela revolução. A “via militar” revolucionária, no entanto, se mostraria frágil sob o capitalismo dependente mais diferenciado e, por vezes, avançado na América do Sul, especialmente depois da vitória do Exército Rebelde em Cuba.

As deficiências e os equívocos de Carlos Marighella resultaram de fatores incontroláveis e insuperáveis. Ele foi até onde seu dever exigia, sem meios para tornar a missão necessária realizável. A revolução proletária não é um “objetivo” do partido revolucionário. Ela é, ao mesmo tempo, sua razão de ser, seu sustentáculo e seu produto, mas de tal modo que, quando o partido revolucionário surge, ele é um coordenador, concentrador e dinamizador das forças sociais explosivas existentes. Como assinalou Karl Marx, “a humanidade não se propõe nunca senão os problemas que ela pode resolver, pois, aprofundando a análise, ver-se-á sempre que o próprio problema só se apresenta quando as condições materiais para resolvê-lo existem ou estão em vias de existir”. O que qualifica e distingue as posições assumidas por Carlos Marighella é o propósito de romper com uma linha adaptativa, que retirava o Partido Comunista do polo proletário da luta de classes, convertendo-o em “cauda” permanente e em esquerda da burguesia.

O seu marxismo-leninisimo ficou muito mais próximo da intenção que da elaboração teórica e prática consequente. O que não o impediu de encontrar, através da prioridade política e da acumulação de uma vasta experiência concreta negativa, uma versão objetiva das sinuosidades do comunismo adaptativo e tolerante que o marxismo acadêmico só descobriu tarde demais ou, então, nunca teve gana de desmascarar. No momento mesmo no qual nos vemos de novo impelidos para os erros do passado, parece indispensável voltar às suas críticas e às razões de suas rupturas (ainda que seja impensável reabsorver o conjunto de soluções teóricas e práticas que inspirou e difundiu). Em três pontos, pelo menos, é indispensável tomá-lo como referência de uma purificação marxista dos nossos partidos revolucionários.

O primeiro ponto tem a ver com os vínculos diretos da teoria com os fatos concretos e com a realidade, pela experiência crítica e pela ação crítica. Essa orientação é básica para a elaboração de um comunismo made in América Latina, construído por nós, embora com raízes marxistas e leninistas. Ele situa em plano secundário o intelectual “teórico”, eurocêntrico, e repele as “soluções importadas”, que impunham os modelos invariáveis de algum monolitismo soviético, chinês etc. O segundo ponto é o mais decisivo, pois põe em questão qual é o partido revolucionário que deve surgir das condições econômicas, sociais e políticas dos países da América Latina (e do Brasil, em particular). Uma sociedade civil que repele a civilização para todos e um Estado que concentra a violência no topo para aplicá-la de forma ultraopressiva e ultraegoísta envolvem uma barbárie exasperada específica. Tal partido deverá ser, sempre, uma espécie de iceberg, por mais confiável e durável que pareça sua “legalidade”. Isso lhe permitirá interagir dialeticamente nos dois níveis da transformação revolucionária da sociedade – o burguês, por dentro da ordem, e o proletário e camponês, contra a ordem. O terceiro ponto refere-se à aliança com a burguesia, que nunca deveria ter alcançado a densidade e a permanência que atingiu. Um partido comunista dócil à burguesia nunca será proletário nem revolucionário e terá, como sina inexorável, que perverter a aliança política. “O segredo da vitória é o povo”. O eixo de gravitação das alianças está, portanto, na solidariedade entre os oprimidos; em suas lutas anti-imperialistas, nacionalistas e democráticas, tanto quanto nas suas tentativas de domar a supremacia burguesa, conquistar o poder ou implantar o socialismo. Em suma, Carlos Marighella era um sonhador com os pés no chão e a cabeça no lugar. Ele ainda desafia os seus perseguidores e merece dos companheiros de rota (e do antigo partido) que levem seriamente em conta sua tentativa de equacionamento teórico e prático do enigma do movimento comunista no Brasil.



* Texto publicado originalmente no jornal Folha de S.Paulo, em 12 de novembro de 1984.