Publicado em: Jornal Cinform, Edição 1540, de 15 a
21/10/2012
Nos dias 4 e 5 de outubro, o Tribunal de Justiça do Estado
de Sergipe realizou o 3º Seminário de Comunicação e Justiça, evento criado para
aproximar estudantes e jornalistas do órgão. Contando com a estrutura do
auditório do Palácio da Justiça Tobias Barreto, o seminário teve cerca de 350
inscritos.
O evento contou com a presença de membros da magistratura
sergipana, jornalistas, professores e estudantes, convidados para assistir a
palestras sobre temas que envolviam a imprensa, sua relação com o Judiciário, o
funcionamento desse Poder e os seus desafios.
A abertura aconteceu com o jornalista Augusto Nunes, que
discorreu sobre a relação entre a imprensa e a Justiça. O jornalista, que já
passou por funções de direção em grandes meios de comunicação do país como
Globo e Folha de São Paulo, hoje é colunista da revista semanal mais
questionada quanto a sua imparcialidade: a Veja.
Tendo como alvo principal dos ataques que faz em seu
trabalho, o Governo Federal e as organizações de esquerda, Augusto Nunes faz
parte da revista que mais se notabiliza neste país pela ferocidade e
agressividade como retrata seus adversários políticos e como grande crítica dos
movimentos sociais e das organizações dos trabalhadores.
Logo ao início da palestra Augusto Nunes se apressou em
criticar um dos temas que tem estado em pauta na sociedade, que questiona e
coloca em xeque o Poder Judiciário: os Marajás do TJSE. “Não são os magistrados
que recebem bem, é o povo brasileiro que recebe muito mal”, afirmou.
Sobre um tema que envolve o acesso da população ao
Judiciário, o palestrante fez questão de justificar os ‘códigos’ internos da
Justiça e seu distanciamento do público em geral. “O Judiciário está certíssimo
em manter uma elite. Não se pode ter pavor de elite, só assim se mantém a
qualidade que se tem na magistratura brasileira até hoje”, frisou.
Questionamento sobre a VEJA
Mais adiante, foi questionado por um estudante sobre o que
acreditava do envolvimento de um colega de profissão, o jornalista Policarpo
Jr., editor de Veja, com o bicheiro e atual alvo de uma CPI, Carlinhos Cachoeira.
Augusto Nunes se esquivou, e tentou diferenciar a relação fonte/jornalista de
uma suposta cumplicidade.
Classificou como “tentativa de controlar a imprensa” por
parte do Partido dos Trabalhadores e lamentou que seu colega fosse “culpado
pelo que não fez”. Nunes ainda afirmou que todo jornalista tem informantes e
que adoraria se “um terrorista fosse informante” e que “só o entregaria se
estivesse na iminência de cometer um atentado”.
Tato Nagoya, jornalista da revista, também de circulação
nacional, Caros Amigos, acredita que ao convidá-lo o Tribunal de Justiça já
tinha consentimento do papel que cumpriria o jornalista de Veja no seminário.
“Atualmente, a revista Veja é o pior exemplo de jornalismo no Brasil. É um meio
de comunicação que tem um lado, o lado dos poderosos. Usa diversos artefatos
para se colocar como neutro. Entrevistas forjadas e falta de profissionalismo
são um exemplo disso”, afirmou o jornalista.
Questionado sobre a atitude do TJSE, o jornalista paulistano
Gabriel Brito, do Correio da Cidadania, afirma que não vê justificativas claras
para que, na atual conjuntura, um tribunal de justiça utilize a máquina pública
para convidar Augusto Nunes para participar de um seminário. “Não é possível
que diante do atual momento de alta desmoralização da revista Veja, um Tribunal
de Justiça convide uma de suas referências, Augusto Nunes, para palestrar em
evento oficial”, afirma.
O Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário de Sergipe
(SINDIJUS) também questiona a validade do convite do jornalista, e afirma estar
aguardando a divulgação dos custos do seminário:
“É importante percebermos que o Tribunal de Justiça do
Estado de Sergipe, ao trazer Augusto Nunes, articulador de uma das principais
revistas que criminalizam diariamente os movimentos sociais e o universo
sindical, utiliza a verba pública para organizar um evento com cara de disputa
ideológica, através da formação distorcida e manipulada dentro da esfera da
comunicação, ao que parece no intuito de fortalecer rótulos e estereótipos que
já se permeiam no senso comum quando o assunto é a organização dos
trabalhadores, além de defender a manutenção dos supersalários, de desigualdade
social com a formação de elites e o consequente distanciamento da população do
Judiciário”, disse o diretor do SINDIJUS, Plínio Pugliesi.
O representante do SINDIJUS sustenta ainda que “apesar de
ser um órgão que deve ser público, as coisas ficariam mais claras se o
Judiciário colocasse as cartas na mesa e assumisse que tem lado político e
dissesse o qual é. Vamos checar quanto foi gasto com essa consultoria e cobrar
uma resposta oficial do Tribunal de Justiça de Sergipe sobre os critérios para
a escolha do referido palestrante”, afirma.