Dieese e sindicato de classe apontam a disparidade entre remuneração do servidor na planície e do alto escalão do Judiciário, da Corte de Contas e do Ministério Público.
Fonte: Cinform, Edição nº 1.561, de 11 a 17 de março de 2013Imagens: Editoria de Arte/Cinform
A diferença
salarial entre as classes trabalhadoras é um dos indicadores da desigualdade
social no Brasil. Cientes disso, os Governos Federal, Estadual e Municipal vêm
colocando em prática políticas públicas com o objetivo de reduzir a distância
entre os pobres e ricos dessa esfera.
Na contramão
de algumas iniciativas que visam a aproximar os ganhos dessas duas classes
sociais, tramita na Assembléia Legislativa de Sergipe três Projetos de Lei –
7/2013, 8/2013 e 11/2013 – que reajustam os subsídios dos integrantes do
Tribunal de Contas – TCE/SE – do Ministério Público – MP/SE – e do Poder
Judiciário – TJ/SE.
Os projetos
de Lei concedem reajuste válido para os próximos três anos, com salários acima
de R$ 22 mil. De acordo com avaliação do economista Luiz Moura, do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos – Dieese –, a estrutura
salarial dos servidores públicos no Brasil e em Sergipe guarda algumas
especificidades injustas.
Segundo
Moura, há uma diferenciação cruel entre os poderes. “No Executivo,
invariavelmente, os servidores ganham menos do que no Legislativo e no
Judiciário. Isso nos três níveis de Governo – União, Estado e Município – e, às
vezes, executando o mesmo serviço, o que é mais grave”, comenta.
Moura revela
que essa discrepância ocorre porque o Executivo não costuma repor a inflação de
determinado período para os seus servidores. No Legislativo e no Judiciário,
segundo ele, há a tradição de, ao menos, recuperar a inflação e, em alguns
casos, há reajuste acima dela.
Segundo o
economista, na última negociação feita com os servidores, o Judiciário não
atendeu às reivindicações deles. “Os servidores queriam um percentual maior do
que os 7% estipulados para quem é de carreira e os 5% para os cargos
comissionados. Isso também se reproduziu no Mistério Público, que concedeu um
aumento de 5,23% e no Tribunal de Contas, com reajuste de 4,99%”, disse.
Acima da LRF
Luiz Moura
afirma que existe uma disparidade muito grande entre o maior e o menor salário
público no Brasil. “Nos países desenvolvidos, a diferença salarial é de, no
máximo, cinco vezes em relação ao menor salário. Aqui, um ministro do Supremo
ganha de 30 a 40 vezes mais que o salário-mínimo. É justo que o sujeito ganhe
isso?”, questiona ele.
“Não tenho
nada contra um ministro do Supremo ganhar R$ 30 mil. O problema é que ele ganha
isso num País que paga um salário mínimo de R$ 678”, complementa Moura. Para
ele, o mesmo empenho que a sociedade tem em aceitar como razoável o salário do
ministro do Supremo deveria ser o de olhar para o salário-mínimo e verificar a
necessidade de diminuir essa diferença entre a maior e a menor remuneração no
País.
O economista
disse que no caso do Legislativo de Sergipe, há um problema. “O Tribunal de
Contas está acima dos limites prudencial e máximo estabelecidos pela Lei de
Responsabilidade Fiscal – LRF. Conforme o último relatório apresentado em
audiência pública pela Secretária da Fazenda, o TCE gasta 1,22% de pessoal em
relação à Receita Corrente Líquida e, nesse sentido, está acima do limite da
LRF. No limite prudencial, o TCE deveria estar gastando 1,10% e, no limite
máximo, 1,16%, estando acima, portanto, dos dois limites,”, comenta.
Segundo Luiz
Moura, por está acima do limite da LRF, o TCE não deveria, ter dado aumento aos
de alto salário – só reajustar os servidores de baixo peso remuneratório. Além
disso, não deveria ter nenhum tipo de plano de carreira e da o exemplo, no
sentido de olhar a sua estrutura salarial para compatibilizar a LRF, dado que é
o TCE que fiscaliza os demais órgãos em relação ao cumprimento dessa lei. E que
o fiscaliza?
O presidente
do TCE, Carlos Alberto Sobral de Souza, diz que o órgão já de adaptou à LRF. “O
percentual da despesa total do TCE com o pessoal em relação à Receita Corrente
Liquida é de 1.05%, conforme relatório de gestão fiscal publicado no ‘Diário
Oficial do Estado’ nº 26.657, de 30 de janeiro de 2013, percentual esse, abaixo
do limite prudencial, que é de 1,10%”, afirma.
Quebra dos subsídios
O Presidente
do Sindicato dos Servidores do Poder Judiciário do Estado de Sergipe – SINDIJUS
-Plínio Pugliesi, disse que é preciso debater não só o reajuste, mas também o
fato de todos os meses haver o Tribunal da Justiça o descumprimento do teto
estipulado para os salários do serviço público.
De acordo com
a Constituição Federal, nenhum servidor público pode ganhar mais do que o
Ministro do STF que atualmente recebe R$ 28.059,29. “O TJSE já está se
acostumando a descumprir a Constituição e todos os meses há pagamentos de
salários, sobretudo para Desembargadores e Juízes, que ultrapassa esse teto”,
afirma.
Informação
negada pelo TJ/SE, ao afirmar que o sistema remuneratório do TJ/SE está em
conformidade com o limite Constitucional estabelecido. O Tribunal revela,
ainda, que caso estivesse acima do teto, o próprio Conselho Nacional de Justiça
(CNJ), responsável por esse tipo de fiscalização já teria tomado as devidas
providências. Todos os salários podem ser consultados por qualquer cidadão na
Transparência do TJ/SE.
Dados da
Transparência, divulgados pelo próprio TJ/SE, mostram que, no mês de fevereiro
de 2013, houve o pagamento de salários bem acima dos subsídios. “Agente vê o
pagamento de salários de R$ 52 mil, R$ 47 mil, R$ 46 mil de juízes, desembargadores
e algumas vezes até funcionários”, revelou, ao acrescentar que, durante o ano
passado, só um desembargador recebeu mais de R$ 800 mil do orçamento.
Pugliesi
admite que o salário do TJ/SE ultrapassam o teto por causa da quebra do
subsídio. Segundo ele a Constituição estabelece que o pagamento do subsídio
deve ser feita em parcelo única. “Nos últimos anos agente vê crescendo a
quantidade de penduricalhos que crescem e engordam ainda mais os salários dos
componentes do Poder Judiciário. São auxilio moradia, auxilio alimentação,
auxilio saúde. Quando se junta esse arcabouço de penduricalhos, acaba gerando
esses salários exorbitantes”, frisa.
O líder
sindical afirmou que, enquanto isso, na campanha salarial, que ainda está em
andamento, todas as reivindicações de valorização para os servidores
concursados apresentadas à Presidência do TJSE foram rejeitadas. “Essa é uma
campanha que vai além da valorização dos trabalhadores do órgão. A gente mostra
ao TJ/SE os caminhos que criam condições para acabar com os marajás. Acabar com
os superssalários e moralizar o órgão como um todo, obedecendo ao teto que a
Constituição Federal fala”, enfatiza. O TJ/SE, por sua vez, afirma que houve
avanços e foi dada continuidade à política já estabelecida há bastante tempo de
concessão de aumentos reais.